TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UM OLHAR SOB A PERSPECTIVA DO ADOLESCENTE E DO ADULTO

Índice


Introdução:

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que se manifesta ao longo de toda a vida, impactando indivíduos de maneiras diversas. Embora o diagnóstico seja frequentemente associado à infância, compreender o TEA sob a perspectiva de adolescentes e adultos é fundamental, pois as características e desafios evoluem com a idade. Essa condição neurodiversa influencia a forma como uma pessoa percebe o mundo e interage, apresentando uma variedade de características como interesses específicos intensos, comportamentos repetitivos e desafios na comunicação e interação social.

Este artigo explora o TEA na adolescência e vida adulta, enfatizando a natureza espectral da condição e a importância de abordagens personalizadas no tratamento e apoio. Destacamos a relevância do diagnóstico, das estratégias de intervenção adaptadas e da inclusão social, fundamentais para melhorar a qualidade de vida e promover a plena participação de pessoas com TEA na sociedade. A pesquisa e a prática clínica têm reforçado a necessidade de intervenções baseadas em evidências, adaptadas às particularidades individuais e culturais (Paula et al., 2011; Rodrigues, 2012).


Desenvolvimento:

As Características do TEA na Adolescência e Vida Adulta

O Transtorno do Espectro Autista engloba um conjunto diversificado de manifestações que variam significativamente entre indivíduos, refletindo a natureza espectral da condição (American Psychiatric Association, 2013). Interesses específicos intensos e comportamentos repetitivos são marcas registradas do TEA, oferecendo conforto e previsibilidade, mas podendo também limitar a participação em uma gama mais ampla de atividades (Kanner, 1943; Wing, 1981).

  • O que ajuda? Compreender que as dificuldades de comunicação e interação social são desafios significativos, frequentemente exacerbados na adolescência e vida adulta devido ao aumento das demandas sociais (Howlin, 2003). Saber que a discrepância entre o Q.I. verbal e não-verbal pode mascarar dificuldades de compreensão social (Frith, 2003), que há desinteresse nas normas sociais convencionais por priorizar conforto (Grandin, 2006) e autoexpressão (Attwood, 2007), e que a sensibilidade sensorial aumentada (Bogdashina, 2003) afeta a interação com o ambiente. Reconhecer essas características ajuda a entender o indivíduo autista em fases posteriores da vida, validando suas experiências e direcionando a necessidade de suporte adaptado para esses desafios evolutivos.

A Importância Fundamental do Diagnóstico

Embora o diagnóstico precoce seja ideal para intervenções iniciais, sua importância se estende significativamente para adolescentes e adultos.

  • O que ajuda? Entender que a identificação da condição em qualquer estágio da vida pode melhorar significativamente a qualidade de vida, permitindo o início de intervenções adaptadas (Howlin et al., 2014). Saber que o reconhecimento tardio pode deixar indivíduos sem o apoio necessário durante anos críticos (Lord & Bishop, 2010) e que o diagnóstico não apenas facilita a implementação de estratégias de apoio ajustadas, mas também promove uma compreensão mais profunda das próprias condições (Lord & Bishop, 2010). O diagnóstico empodera o indivíduo para a autoaceitação e autodefesa, sendo um passo crucial para acessar os recursos e suportes necessários ao longo da vida adulta.

Intervenções Personalizadas e Evolutivas

Uma vez estabelecido o diagnóstico, a personalização do tratamento torna-se fundamental, pois cada pessoa no espectro é única com pontos fortes, desafios e necessidades específicas.

  • O que ajuda? Saber que estratégias de intervenção personalizadas visam atender às necessidades individuais, promovendo o desenvolvimento em áreas-chave (comunicação, habilidades sociais, independência). Programas podem incluir terapias comportamentais (ABA – Lovaas, 1987; McEachin, Smith, & Lovaas, 1993), educacionais (Hodgdon, 1995), de comunicação, e ocupacionais (Ayres, 1972), adaptadas em intensidade e tipo. O suporte psicológico para adolescentes e adultos, incluindo TCC adaptada, ajuda a lidar com ansiedade e depressão (Wood, et al., 2009). Compreender a escassez de serviços adaptados para adultos (Shattuck et al., 2012) reforça a necessidade de programas que abordem habilidades sociais, saúde mental e emprego, moldados pelas preferências e objetivos do indivíduo. A colaboração multidisciplinar e o envolvimento do indivíduo no planejamento do tratamento são essenciais (National Research Council, 2001).

Promovendo a Inclusão Social Efetiva

Além das intervenções individuais, a promoção da inclusão social em larga escala é vital para indivíduos com TEA.

  • O que ajuda? Reconhecer que a inclusão efetiva exige esforços além das terapias, incluindo políticas públicas, práticas educacionais inclusivas e sensibilização da sociedade (Taylor & Seltzer, 2011). Saber que a inclusão não se limita à presença física, mas à participação significativa e ao reconhecimento das contribuições individuais (Taylor & Seltzer, 2011). Compreender que a aceitação das diferenças neurodiversas é fundamental para construir uma comunidade que valorize cada indivíduo, promovendo igualdade de oportunidades. A inclusão social em educação, emprego e redes de apoio é uma abordagem multifacetada que ajuda a quebrar barreiras e a facilitar uma sociedade mais compreensiva e acolhedora para pessoas com TEA.

Quer saber mais? Veja as fontes que inspiraram este artigo:

American Psychiatric Association (2013) Attwood (2007) Ayres (1972) Bogdashina (2003) Frith (2003) Grandin (2006) Hodgdon (1995) Howlin (2003) Howlin et al. (2014) Kanner (1943) Lord & Bishop (2010) Lovaas (1987) McEachin, Smith, & Lovaas (1993) Mesibov, Shea, & Schopler (2005) National Research Council (2001) Paula et al. (2011) Rodrigues (2012) Shattuck et al. (2012) Taylor & Seltzer (2011) Wing (1981) Wood et al. (2009) Portela (2025a) Portela (2025b)

Eúnice Nobrega

Possuo pós-doutorados em Psicanálise (Miami-FL, EUA) e em Psicanálise Clínica (IESS-BR), doutorado em Educação/Psicologia Social (UnB), e é Psicanalista Clínica/Neuropsicóloga. Com especializações em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Saúde Mental e Orientação Educacional, além de ser Psicopedagoga Clínica. Atuo como Professora Universitária em Programas de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu). Além de ser pesquisadora, escritora e palestrante.

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