AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

Índice


Introdução:

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental complexa, que se manifesta de maneiras diversas em cada indivíduo. Compreender as características comuns associadas ao TEA é um passo fundamental para desmistificar estereótipos, promover a empatia e construir uma sociedade mais inclusiva. O autismo não é uma doença a ser curada, mas uma forma diferente de vivenciar e interagir com o mundo, com um conjunto único de desafios e pontos fortes.

Este artigo de blog tem como objetivo apresentar e explorar algumas das principais características frequentemente observadas em pessoas no espectro autista. Ao detalhar essas particularidades, buscamos oferecer insights que ajudem a aprimorar a compreensão sobre a neurodiversidade do TEA e a importância de abordagens individualizadas e de suporte adaptado ao longo da vida.


Desenvolvimento:

Padrões de Comportamento e Interesses Restritos

Uma característica central no TEA é a presença de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos e repetitivos.

  • O que ajuda? Entender que indivíduos autistas frequentemente demonstram interesses específicos e restritos ou preocupações intensas com um tema em detrimento de outras atividades (Item 1). Saber que eles podem apresentar rituais ou comportamentos repetitivos (Item 1) ajuda a reconhecer que essas características muitas vezes oferecem conforto, previsibilidade e um senso de controle em um mundo que pode parecer caótico. Essa compreensão auxilia a evitar a interpretação desses comportamentos como meramente “estranhos”, permitindo buscar formas de integrar esses interesses e rotinas de maneira funcional no dia a dia e no planejamento de atividades.

Comunicação e Linguagem

As particularidades na forma de se comunicar são notáveis no espectro autista, englobando tanto a fala quanto a compreensão.

  • O que ajuda? Saber que pessoas autistas podem apresentar peculiaridades na fala e na linguagem (Item 2) e problemas com comunicação, mesmo que a linguagem em si não esteja comprometida (Item 4). Reconhecer que um modo de falar “pedante”, usando um registro formal muitas vezes impróprio para o contexto, é um traço comum (Item 14), e que a interpretação literal de frases (dificuldade com ironias, gírias, sarcasmo e metáforas) (Item 15) é frequente. Compreender essas particularidades ajuda a adaptar a própria comunicação ao interagir com pessoas autistas, utilizando linguagem clara, direta e explícita, e a ser paciente caso a resposta não seja a esperada em contextos que exigem flexibilidade interpretativa.

Interação Social e Relacionamentos

Desafios na interação social e na construção de relacionamentos são características definidoras do TEA, embora a forma e intensidade variem.

  • O que ajuda? Entender que comportamento social e emocionalmente impróprio e problemas de interação social podem ocorrer (Item 3), assim como dificuldades em relacionamentos, como sentir dificuldade em fazer amigos ou conseguir parceiros (Item 7). Saber que, às vezes, podem ser considerados rudes ou frios (Item 8) ou apresentar dificuldade em compreender a linguagem corporal e as intenções do outro (Item 9) ajuda a perceber que essas são manifestações da neurodivergência na forma de processar informações sociais e emocionais, e não necessariamente falta de interesse ou empatia. Essas dificuldades são frequentemente exacerbadas na adolescência e vida adulta devido às crescentes demandas sociais (Howlin, 2003; Frith, 2003). Compreender essas nuances é vital para praticar a empatia, evitar julgamentos apressados e buscar estratégias de suporte social adaptadas.

Processamento Sensorial e Motor

A forma como o cérebro autista processa informações sensoriais e controla movimentos pode apresentar diferenças significativas.

  • O que ajuda? Saber que sensibilidade sensorial aumentada é comum, como aversão a sons altos, luzes brilhantes, texturas ou temperaturas (Item 16), e que pode haver dificuldades na modulação sensorial, levando a comportamentos de busca ou evitação de estímulos (Item 17). Entender que também podem ocorrer transtornos motores, com movimentos desajeitados ou descoordenados (Item 5). Reconhecer essas diferenças no processamento sensorial e motor ajuda a adaptar ambientes para serem sensorialmente mais amigáveis e a compreender certos comportamentos (como evitar toque ou sons altos) como respostas a estímulos sensoriais intensos, e não como recusa social ou teimosia. Também orienta o suporte terapêutico para questões motoras.

Aspectos Cognitivos e Flexibilidade

As características cognitivas no TEA são diversas, abrangendo desde perfis de QI a desafios em funções executivas.

  • O que ajuda? Entender que alguns indivíduos autistas podem apresentar um Q.I. verbal significativamente mais elevado que o não-verbal (Item 6), indicando um perfil cognitivo único. Saber que podem exibir comportamentos variáveis, parecendo ora adultos, ora mais infantis (Item 10), e enfrentar desafios em tarefas que requerem planejamento e organização (funções executivas) (Item 18). Reconhecer que há variações significativas no desenvolvimento de habilidades (Item 19), com áreas de força e áreas de desafio. Compreender esses aspectos ajuda a adaptar as expectativas e as abordagens de ensino ou suporte, focando nas forças, fornecendo estrutura para desafios executivos e reconhecendo que a expressão da idade ou maturidade pode não ser linear.

Expressão Social e Interpessoal

A forma como indivíduos autistas se expressam socialmente e lidam com as expectativas alheias pode diferir dos padrões neurotípicos.

  • O que ajuda? Entender que podem tender a fazer tudo da maneira que acham mais confortável, sem se importar com a opinião alheia, especialmente em relação à aparência (Item 11). Saber que suas expressões de afeto e rancor podem ser curtas e fracas (Item 12) porque reagem mais pragmaticamente do que emocionalmente em certos contextos. Reconhecer que se sentem compelidos a corrigir erros ou o que percebem como errado, mesmo sem conhecerem bem o assunto, o que pode parecer ofensivo (Item 13). Compreender essas peculiaridades na expressão social ajuda a interpretar essas ações como manifestações da neurodivergência – focando na lógica/conforto, processando emoções de forma diferente ou buscando precisão – em vez de ver maldade, falta de consideração ou agressividade, promovendo uma interação mais tolerante e adaptada.

Quer saber mais? Veja as fontes que inspiraram este artigo:

American Psychiatric Association (2013) Attwood (2007) Bogdashina (2003) Frith (2003) Grandin (2006) Howlin (2003) Kanner (1943) Wing (1981) Portela (2025a) Portela (2025b)

Eúnice Nobrega

Possuo pós-doutorados em Psicanálise (Miami-FL, EUA) e em Psicanálise Clínica (IESS-BR), doutorado em Educação/Psicologia Social (UnB), e é Psicanalista Clínica/Neuropsicóloga. Com especializações em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Saúde Mental e Orientação Educacional, além de ser Psicopedagoga Clínica. Atuo como Professora Universitária em Programas de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu). Além de ser pesquisadora, escritora e palestrante.

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