
Introdução:
A observação de que homens no espectro autista podem apresentar taxas mais baixas de testosterona na idade adulta é uma área de investigação complexa que tem despertado interesse na pesquisa sobre neurodesenvolvimento e endocrinologia. Embora a relação exata e os motivos por trás dessa diferença hormonal ainda não sejam totalmente compreendidos, diversas hipóteses têm sido propostas, abrangendo desde aspectos biológicos e genéticos até influências ambientais e psicossociais.
Compreender as possíveis causas subjacentes a essa particularidade hormonal é fundamental para oferecer um cuidado de saúde mais completo e integrado a homens autistas. Este artigo de blog explora algumas das principais teorias e áreas de investigação que buscam responder à pergunta: por que essa diferença acontece?
Desenvolvimento:
Diferenças no Desenvolvimento Hormonal e Cerebral
Uma linha central de investigação foca em como o sistema que regula a produção de hormônios sexuais pode se desenvolver e funcionar de maneira diferente no autismo.
- O que ajuda? Entender que o Eixo Hipotálamo-Hipófise-Gonadal (HPG) é o maestro da produção de testosterona. A hipótese é que diferenças sutis no desenvolvimento ou na regulação desse eixo em indivíduos autistas, possivelmente ligadas a alterações neurobiológicas no hipotálamo (uma área cerebral central para o autismo e a regulação hormonal), poderiam levar a uma sinalização inadequada, resultando em uma produção subótima de testosterona (como explorado em estudos neuroendócrinos). Compreender essa potencial disfunção no Eixo HPG ajuda a direcionar pesquisas para investigar a sinalização hormonal em autistas e a considerar avaliações endócrinas como parte do cuidado de saúde.
A Complexa Influência da Genética e Epigenética
As bases genéticas e epigenéticas do autismo são multifacetadas e podem ter um papel na regulação hormonal.
- O que ajuda? Saber que variações comuns no DNA (polimorfismos genéticos) em genes envolvidos na produção, transporte ou metabolismo de testosterona, ou em seus receptores, podem ser mais prevalentes ou funcionar de forma diferente em indivíduos com TEA. Além disso, padrões distintos de metilação do DNA (processos epigenéticos que afetam a expressão gênica sem mudar o DNA) poderiam influenciar a atividade de genes relacionados à produção de testosterona. Compreender essas potenciais influências genéticas e epigenéticas ajuda a direcionar pesquisas para identificar genes candidatos e padrões epigenéticos associados a níveis hormonais no autismo, o que, a longo prazo, pode levar a uma melhor identificação de subgrupos de risco e intervenções genéticas/farmacológicas mais direcionadas.
Metabolismo, Estresse e Estilo de Vida
Para além da base genética e do desenvolvimento inicial, o modo como o corpo processa hormônios, o impacto do estresse crônico e fatores do estilo de vida também podem ser relevantes.
- O que ajuda? Considerar que o metabolismo da testosterona pode ser diferente no autismo (por exemplo, maior conversão para outros hormônios). Saber que o estresse crônico, comum devido a desafios sociais ou sensoriais no autismo, leva a níveis elevados de cortisol, que pode suprimir o Eixo HPG e a produção de testosterona. Compreender essa ligação entre o Eixo HPA (estresse) e o Eixo HPG (hormônios sexuais) ajuda a reconhecer que o manejo do estresse crônico é vital e pode ter um impacto na saúde hormonal. Além disso, estar ciente de que fatores do estilo de vida (dieta, exercício, sono) e fatores psicossociais (como engajamento social/competitivo) podem influenciar os níveis de testosterona em todos os homens ajuda a considerar se variações nesses aspectos, dentro da população autista, podem contribuir para diferenças hormonais. Isso direciona para a importância de estratégias de manejo de estresse e a promoção de um estilo de vida saudável como parte do suporte integral.
O Fator Idade e a Trajetória Hormonal
É importante lembrar que os níveis de testosterona diminuem naturalmente com o envelhecimento em todos os homens.
- O que ajuda? Contextualizar a observação de baixa testosterona na idade adulta dentro desse declínio natural relacionado à idade ajuda a entender que a questão pode não ser apenas ter níveis baixos inicialmente, mas sim como os fatores específicos do autismo podem influenciar a trajetória ou a taxa desse declínio ao longo da vida. Hipoteticamente, as complexas interações biológicas e psicossociais no autismo poderiam levar a um declínio mais precoce ou acentuado. Compreender essa potencial influência na trajetória hormonal com a idade é importante para o monitoramento da saúde hormonal a longo prazo em homens autistas.
Quer saber mais? Veja as fontes que inspiraram este artigo:
American Psychiatric Association (2013) Baron-Cohen (2003) Portela (2025a) Portela (2025b)