O TDAH COMO COMORBIDADE NO ESPECTRO DO AUTISMO

Índice


Introdução:

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são condições neurodesenvolvimentais frequentemente estudadas e diagnosticadas. Embora possuam perfis de sintomas distintos – TDAH focado em atenção, hiperatividade e impulsividade, e TEA primariamente em comunicação social e padrões restritos –, a realidade clínica e as pesquisas revelam uma sobreposição significativa entre eles. A coexistência de TDAH e TEA em um mesmo indivíduo, conhecida como comorbidade, apresenta um quadro complexo que exige abordagens refinadas e integradas.

Este artigo de blog explora a intrincada relação entre TDAH e TEA como comorbidade, destacando sua alta prevalência e as complexas maneiras pelas quais os sintomas interagem. Discutiremos as implicações para o diagnóstico e proporemos um panorama de abordagens terapêuticas personalizadas, sublinhando a necessidade de uma perspectiva holística que reconheça a neurodiversidade para otimizar o suporte a indivíduos que navegam os desafios dessas condições coexistentes.


Desenvolvimento:

A Alta Prevalência e a Complexidade da Comorbidade TEA e TDAH

A literatura científica comprova a significativa sobreposição entre o Transtorno do Espectro Autista e o TDAH. O DSM-5, desde 2013, permite o diagnóstico simultâneo, refletindo a realidade clínica de que os sintomas de ambos podem coexistir e interagir de maneiras complexas.

  • O que ajuda? Saber que entre 30% a 80% das pessoas no espectro autista também apresentam sintomas clinicamente significativos de TDAH (Simonoff et al., 2008; Antshel et al., 2013) ajuda a reconhecer a alta probabilidade dessa comorbidade. Compreender que os sintomas de TDAH (desatenção, hiperatividade, impulsividade) podem interagir e amplificar os desafios já presentes no TEA (dificuldades sociais, regulação emocional, funções executivas) é crucial. Essa interação complexa resulta em desafios acentuados, como dificuldades ainda maiores em organização, planejamento e interações sociais (devido a interrupções impulsivas ou dificuldade em seguir conversas). Reconhecer essa complexidade é o primeiro passo para uma avaliação diagnóstica precisa que considere ambas as condições, garantindo que o indivíduo receba um suporte que aborde a totalidade de seus desafios.

Abordagens Terapêuticas Integradas e Personalizadas

O manejo terapêutico da comorbidade TEA e TDAH exige uma abordagem multifacetada e adaptada, que considere a interação única dos sintomas em cada indivíduo.

  • O que ajuda? Saber que não existe um único protocolo, mas sim a necessidade de integrar diferentes modalidades baseadas em evidências (Ghaziuddin & Zafar, 2008). O manejo farmacológico pode ser utilizado para sintomas de TDAH, mas com cautela e monitoramento rigoroso em indivíduos com TEA. Intervenções Comportamentais e Cognitivas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) adaptada, são fundamentais para desenvolver estratégias de organização, gestão do tempo, gerenciamento de ansiedade e flexibilidade cognitiva (Moree & Davis, 2010). O Treinamento de Habilidades Sociais (THS) adaptado é crucial, considerando tanto as dificuldades primárias do TEA quanto a impulsividade do TDAH. A Terapia Ocupacional (TO) ajuda com habilidades práticas, regulação sensorial e função executiva. Compreender essas modalidades e a necessidade de integrá-las de forma personalizada ajuda a focar na melhoria da funcionalidade, no desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e na promoção do bem-estar geral, considerando a interação única dos sintomas em cada indivíduo.

O Papel Essencial da Rede de Apoio e do Ambiente

Para indivíduos com a comorbidade TEA e TDAH, o suporte do ambiente e das pessoas ao redor é tão vital quanto as terapias diretas.

  • O que ajuda? Reconhecer que o suporte da família, educadores e da comunidade é fundamental para criar um ambiente onde esses indivíduos possam prosperar. A psicoeducação para pais e cuidadores ajuda a compreender a complexidade da comorbidade e as estratégias de manejo eficazes. No ambiente educacional e profissional, adaptações como rotinas claras, minimização de distrações, instruções concisas e suporte para organização são indispensáveis. A perspectiva da Neurodiversidade incentiva a valorização das forças únicas (criatividade, hiperfoco) e a criação de ambientes que não apenas acomodem, mas celebrem as diferenças. Promover a inclusão social ativa (Katz & Girolametto, 2013) em ambientes de suporte ajuda a construir conexões e praticar habilidades sociais. Compreender esse papel expandido da rede de apoio e do ambiente capacita a todos a trabalharem em conjunto com as terapias, reduzindo barreiras e promovendo a participação plena do indivíduo na vida.

Quer saber mais? Veja as fontes que inspiraram este artigo:

Antshel et al. (2013) Ghaziuddin & Zafar (2008) Katz & Girolametto (2013) Moree & Davis (2010) Simonoff et al. (2008) Portela (2025a) Portela (2025b)

Eúnice Nobrega

Possuo pós-doutorados em Psicanálise (Miami-FL, EUA) e em Psicanálise Clínica (IESS-BR), doutorado em Educação/Psicologia Social (UnB), e é Psicanalista Clínica/Neuropsicóloga. Com especializações em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Saúde Mental e Orientação Educacional, além de ser Psicopedagoga Clínica. Atuo como Professora Universitária em Programas de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu). Além de ser pesquisadora, escritora e palestrante.

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